domingo, 25 de dezembro de 2016

Música e futebol, de várzea é lógico

Música e futebol...futebol por música, são tantas as combinações/triangulações; pandeiro e viola, surdo e reco-reco, centro avante e lateral, goleiro e técnico. Toca bola, toca cavaco! Na várzea essa tabelinha já é antiga e tradicional, mas ganhou novas nuances. O samba sempre foi o carro chefe quase que obrigatório. O improviso era em cima dos caminhões, nos busões, alambrados e arquibancadas. O próprio apito do árbitro no trilar é musical e os reis da bola bailam no palco que era marrom/vermelho e se torna sinteticamente verde a cada dia.
Hoje a trilha sonora nos jogos ainda prevalece o agora secular samba, que esta completando 100 anos. Mas, pós jogo, o que pode ser um pagode, em muitos casos também tem som de vinil, tem o som do carro com pancadão, sertanejo, rap e por aí vai.

Músicas com o tema futebol existem várias, desde a clássica Na Cadência do Samba (Que Bonito É) de Luiz Bandeira interpretada por Waldir Calmon e Orquestra até a recente conhecida Uma Partida de Futebol do Skank. Pois é, e sobre o futebol de várzea em si, tem música?. O blog Futebol da Quebrada foi atrás e achou algumas pérolas. Então fizemos uma coletânea dessas músicas e deixamos a disposição para quem quiser fazer um download para escutar depois, é Várzea Music!.

Nosso critério era que a música tinha que citar alguma quebrada, futebol de várzea ou algum time de várzea. E achamos o belo rap do De Menos Crime, rapaziada da leste que fez uma homenagem na A Todos da Várzea. O grupo de samba rock Faro Fino também brincou com o lance, na música A Várzea. O Expressão Ativa em certo momento da letra de O Beck Esta Queimando manda um salve para uns times varzeanos e relembra da explosão das fogueteiras .

Já as equipes do Santa Amélia e R2 Debony da Pedreira zona Sul, tiveram raps feitos em suas homenagens. Do Santa Amélia os intérpretes foram do Bonde dos 25 e o do R2 foi o cantor e compositor Mydras, que infelizmente foi assassinado na chacina que ocorreu na torcida uniformizada Pavilhão 9 do Corinthians. Ah tem também a homenagem ao time do Santa Rosa de Mauá, feito por Mc Kauan dos Vigilantes MC’s.

E o rap do Negredo que fala de uma partida entre Canabis vs Vila Fundão?, louca também, tem todo o clima varzeano na letra. A Canção ao Futebol de Várzea, um samba feito para os varzeanos da cidade de Santos, mas serve pra geral com certeza, certeira composição de Geraldo Pierotti e Ricardo Peres, esse último compositor de mão cheia de sucessos do grupo de pagode Tempero. O rapper Raphão Alaafin gravou a música Futebol na Quebrada é Racha que foi trilha do documentário Várzea A Bola Rolada Na Beira do Coração dirigido por Akins Kinte. Nesse mesmo doc entrou também a Magia da Várzea do Rico da Patota D’Firmino, reparem na base nostálgica.

E tomamos a licença de colocar algumas músicas que não falam diretamente da várzea. Esse repertório de exceções, se forem postas nesse contexto varzeano podem bem servir de trilha, pois ora falam de futebol ou das quebradas. Exemplo da suingada Zagueiro, do mestre Jorge Ben, tem o clima certo para qualquer defesa forte. Meio Campo composta e gravada por Gilberto Gil homenageia um revolucionário das quatro linhas, Afonsinho que jogou no Botafogo do Rio de Janeiro, mas que poderia ser muitos dos meias que desfilam seu futebol na várzea com elegância e qualidade. Tem a Thats My Way do Edi Rock e participação de Seu Jorge, onde o racional em certo momento explicita seu amor ao time do Nove de Julho da Casa Verde. Na É Gol, do grupo Inquérito, o futebol é o contexto para a vida, esses manos sempre foram bons na caneta. 

O Comando DMC era da Vila Joaniza e citou bem de leve a zona Sul varzeana no rap Na Zona Sul. O grupo Alvos da Lei cita alguns bairros da zona Sul e você que gosta da várzea provavelmente vai ligar alguns a seus respectivos times. Outras duas que entraram foram Time Contra e Tocha Botafogo, ambas do Clube do Balanço que tem um clima varzeano, uma delas citando o bairro da Vila Medeiros da zona Norte de São Paulo. Com a canção Fim da Cidade, Rodrigo Campos cita a Vila Carrão com tanta propriedade que se música tivesse cheiro daria pra sentir o do óleo diesel das lotações. A música Gávea da banda Huaska mistura rock e bossa nova pra falar de futebol de um jeito meio maloqueiro. 

O samba rock Flamengão de Bebeto, tudo bem que fala de um time tradicional e profissional que é o Flamengo-RJ, mas a música tem cara de periferia! deve ser porque quando mais jovem, eu sempre a ouvi nos barracos da favela. O pagode Cara do Gol do grupo Sensação é muito legal, passa toda aquela impressão quando o atacante do nosso time perde um gol feito. O samba Esquadrão do Meu Samba de Chico da Silva faz uma comparação entre  armação de um time de futebol e os instrumentos musicais. Na De Frente Pro Crime, apesar da música não falar sobre futebol em si,  João Bosco conseguiu fazer uma parábola sobre uma morte e a indiferença diante da violência, sem contar que o primeiro estrofe é bastante conhecido na voz do locutor Silvio Luiz.

E fechando a conta, o sucesso País do Futebol, música feita sob encomenda para a Copa 2014 no Brasil, de MC Guimê e Emicida, apesar da copa ter sido um fiasco para a seleção canarinho, a música tem um clima bem legal e a letra às vezes é contundente, mas sem perder o alto astral, digna de qualquer resenha pós jogo. Bom gente, é isso, Futebol da Quebrada musical, para o final de ano, esperamos que gostem.





Texto e Seleção de Repertório: Marcelo Santos Costa

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