No dia 20 de Novembro é comemorado no Brasil o Dia da Consciência Negra e esse dia no contexto do futebol tem muitas histórias. No futebol, os negros foram e são essenciais
para o seu desenvolvimento, mas nem sempre foi assim. Nos primórdios do esporte
no Brasil, idos de 1900, eles não tinham direito de participar. E um dos
motivos alegados foi que o futebol fora feito para somente os aristocratas o
praticarem. E o preconceito ainda era evidente na sociedade, como uma herança
ruim da escravidão que havia sido abolida em 1888.
A Associação Atlética Ponte Preta e o Bangu Atlético
Cube do Rio de Janeiro foram os primeiros clubes a aceitarem negros em seu
elenco, em 1900 e 1904 respectivamente. Mas somente a partir da década de vinte
a aceitação começou pra valer, já que o Vasco da Gama abriu o precedente de
luta, quando se indignou contra o preconceito. O time tinha sido campeão em
1923 contando em seu elenco com 12 jogadores afrodescendentes. No ano seguinte
os outros clubes da federação tentaram o forçar a afastar do seu elenco esses jogadores,
o clube não aceitou tal proposta e ainda publicou um manifesto contra tal
prática.
Outro fato de certa forma triste, foi a
respeito do Fluminense-RJ em 1915, o jogador chamado Carlos Alberto, que era
negro, tinha que “clarear” sua pele com pó de arroz. Só que o suor tirava o pó
do seu rosto e os torcedores pejorativamente chamava os jogadores do Flu de “os
de pó de arroz”.
Os atletas negros conforme os passar dos anos
conseguiram seu espaço, na base do vigor físico e do talento sem igual.
Poderíamos aqui fazer uma lista de ídolos e craques. De memória posso citar; O
rei Pelé, Leônidas da Silva o diamante negro, Didi folha seca, Domingos da
Guia, Jairzinho, Eusébio do Benfica, Djalma Santos, Dadá Maravilha, Paulo Cesar
Caju, Claudio Adão, Serginho Chulapa, Wladimir, Dener, Roger Milla e muitos
outros.
Na várzea há um paradoxo no racismo, já que
há uma miscigenação, uma mistura de cores , raças e crenças. Nas arquibancadas
e dentro das quatro linhas, não se vê explicitamente ou com muita frequência tal
prática execrável. A única vez que
presenciei algo dessa natureza, um torcedor chamou um atacante rival de macaco.
Depois de olhares reprovadores, os próprios torcedores calaram o racista com
ameaças, ele teve que ir embora, quase virou caso de polícia.
Como na várzea os apelidos são uma constante
é aí que mora a contradição que falei. Já que alguns jogadores afrodescendentes
carregam muitas vezes apelidos que se olhados com uma perspectiva
preconceituosa, podem conter uma carga racista embutida. Em escalações pelos
terrões da vida já vi jogadores com alcunhas como: churrasco, choquito, negão,
neguinho, tiziu, negrito, negrete, bombom, fumaça, preto, buiu, azul, chocolate... e por aí vai. Em muitos casos, sem
se acanhar, os próprios jogadores citavam e se autoproclamavam com alguns desses quando lhe perguntavam o nome ou apelido. Isso talvez se deva a uma cultura já imposta. Algo que esta arraigado há muito tempo, cabe a quem se ofende se levantar contra ou levar numa boa. Como nas periferias e jogos de várzea os envolvidos são na maioria amigos e conhecidos do mesmo bairro a coisa acaba por ser algo normal ou algo sem muita importância, mas cabe a reflexão.
No futebol de várzea existem times que
exaltam ou tem a temática do orgulho
negro em seus nomes e escudos. Por exemplo o Black Power do Ipiranga, o Negritude
de Artur Alvim, Nego Negro do Carandiru, Kemel Kizomba de Cidade Kemel , Raízes
da Vila Formosa... Já no município de
União dos Palmares no estado de Alagoas temos o time (profissional) Zumbi Esporte
Clube. O que se pode exigir, não somente nesse feriado de 20 de Novembro, mas
sempre, é o respeito e a igualdade entre as pessoas não importando sua origem.
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